POESIAS






A MATA


(Versos regionais de José Bastos, patrono do Acadêmico Ramiro Aquino)



Eu vejo a mata bravia
de longe, muito de longe,
com os olhos do coração...
as grotas, a ramaria,
as frutas bravas, as flores,
passarinhos e verdores,
a lagoa e o ribeirão:

Tudo isso eu vejo de longe
com os olhos do coração!

Nasce o dia, a madrugada
tinge o alto da ramada
com o sangue de pau-brasil...
Acorda a Maria-é-dia,
o canário, o sanhaçu,
a sabiá, o japu,
agitando a ramaria
enflorada e sonolenta
onde a luz pôe róseos tons...

E toda a mata rebenta
em cachoeiras de sons!

Ah! Natureza selvagem!
Nessa verde imensidão
a alma se purifica
embriagada de amplidão;
o coração se dilata
e voa a imaginação,
louca, ansiosa, a doidejar,
como à noite, deslumbrada,
voa a gitirana-bóia
tonta da luz do luar...

Ah! Quem me dera que eu fosse
tal e qual o ribeirão,
perdido dentro do mato,
cantando na solidão,
sob o amplexo do arvoredo,
onde os ventos em segredo,
ao cair do sol poente,
vão dizer uma oração.


Quem me dera que eu pudesse
morar lá dentro da mata
tendo o chão duro por leito,
por noiva a lua de prata,
os ramos por agasalho,
mordendo um favo, uma fruta,
bebendo um pouco de orvalho...

Bem feliz é o gaturamo,
que salta de ramo em ramo,
de manhã, de manhã cedo,
voa aqui, voa acolá
e molha as asas no pranto
que o céu chorou toda a noite
nas folhas de gravatá...

Bem felizes são os ventos
que vão brincar de esconder
logo após o anoitecer,
no cerrado taquaral,
quase à beira da lagoa,
onde a desoras a lua
toma banho toda nua
dentro d’água de cristal...

Bem felizes essas flores,
agrestes, puras, bravias,
nascidas dentro do mato,
beijadas das auras frias,
-flor de croá, de pau d’arco,
de São João, de manacá,
a flor do maracujá
e os cheirosos bogarés...

Ah! Cada florzinha destas
É feliz, muito feliz!

E eu, ai de mim! Na cidade
é que passo a mocidade!
Sim, mas em compensação,
a virgem mata bravia
e tudo quanto ela tem;
-as grotas, a ramaria,
as frutas bravas, as flores,
passarinhos e verdores,
a lagoa e o ribeirão,
tudo isso mora em meu peito!

Eu trago a imagem de tudo
No fundo do coração. 



AMIZADE
Resplende a Luz. Transborda a Alegria
A Paz mostra sua serena face,
Triunfa a Vida em sua inteireza
Vibra o imenso da amizade!
Funciona a tática da delicadeza
Que faz de cardo relva tenra e branda!
Repouso em ombro quente, amigo
Sem ferida, sem vergonha de chorar.
Após a solidão, final feliz!
Amizade é capaz de gerar grandes gestos!
Diferentemente do amor que é cego
Prima pela verdade,
Franqueza - enxerga longe, portanto!
Produz atitude que a fortalece a cada dia.
Confiança é seu fanal, destemor seu alicerce.
Amizade também tem momentos difíceis,
Mas briga até esgotar argumentos,
Briga alicerçada na sua força,
Não é esquiva, dá respostas,
Não abandona em momento de treva.
Como o amor também magoa,
Mas não deixa o sol se por sobre a ferida
Para não dificultar a ternura,
E dinamizar a gentileza.
Amizade é a integridade do amor,
Não carece de carícias corporais,
Amizade nasce plena
Não embarga a voz, não embaça sentidos,
Abre-se para fruir a poesia da vida!
Amizade pode fazer chorar,
Mas consola, não tolhe a inspiração,
Não quer só para si, não constrange à alma,
Não violenta a criatividade
Ousa, não suplica, não espera gratidão - ela se basta,
Porque mais forte que a gratidão.
Amizade é indulgente,
É o amor na forma perfeita!
Não manter a amizade,
Um amigo para desabafar... Chorar no ombro...
Pobreza!
Tesouro consistente,
Riqueza e ânimo – Amizade
Perfeição,
Plenitude!...
Eglê S. Machado
03/06/2012